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quarta-feira, setembro 21, 2005

Percorrendo os caminhos do cinema (2)

Aurélio da Paz dos Reis e os primeiros passos do cinema em Portugal.
O espectáculo do cinema, como novidade do fim do séc. XIX, foi trazido para Lisboa e apresentado ao público pelo hungaro Erwin Rousby, em Junho de 1896, apenas seis meses depois da apresentação pública de Paris. Outros espectáculos em Lisboa, no Teatro D. Amélia, e no Porto, no Teatro do Principe Real (hoje Teatro Sá da Bandeira), deram-se precisamente um mês depois. A esta última exibição assistiu aquele que viria a ser o introdutor do cinema em Portugal.
Fascinado com esta invenção, o floricultor e amador fotográfico de nome Aurélio da Paz dos Reis, partiu para França em Agosto de 1896 na companhia de António da Silva Cunha, propriétario da Camisaria Confiança, com o intuito de comprar aos irmãos Lumiére o inovador cinematógrafo. A tentativa saiu gorada, mas no entanto regressaram a Portugal com um aparelho cinematográfico dos irmãos Werner, concessionários do “Kinetoscópio”. Tinham-se dado os primeiros passos da história do cinema português.
O primeiro trabalho de Aurélio da Paz dos Reis foi um curto filme designado como «Saída dos Operários da Fábrica Confiança». Foi filmado na rua de Santa Catarina, no Porto, numa data incerta que ronda entre Agosto e inícios de Setembro de 1896.
No entanto torna-se importante salientar que Aurélio da Paz dos Reis só pode ser considerado o pioneiro do cinema em Portugal se estas datas estiverem correctas. Dada a escassez de documentos e bibliografias, esta hipótese continua a ser a mais fiável, mas contudo não se pode garantir que o futuro não divulgará outro(s) nome(s). Aliás, a confusão começou logo quando certas entidades e autores omitiram o nome de Paz dos Reis como pioneiro, em detrimento de nomes como Júlio Worm (que durante muito tempo foi considerado o primeiro realizador português) e Manuel Maria da Costa Veiga.
Foi a 1 de Outubro de 1896 que os primeiros assuntos portugueses apareceram nos espectáculos cinematográficos. Embora fossem filmados por um estrangeiro (Erwin Rousby), eram temas portugueses, filmados em Portugal e por sugestão de uma empresa portuguesa. Destes destacam-se «A Praia de Algés na Ocasião dos Banhos» e «A Boca do Inferno em Cascais».
A 2 de Outubro, do mesmo ano, Rousby apresentou «As Irmãs Margarida e Amparo, Bailarinas do Real Coliseu»; a 6 de Outubro «O Mercado de Peixe na Ribeira Nova»; a 7 de Outubro «Na Avenida da Liberdade» e a 14 de Outubro «O Jogo do Pau». Infelizmente nenhum destes filmes conseguiu perdurar no tempo, e a sua existência é apenas confirmada pelos jornais da época e pelos programas-anúncios.
Os trabalhos de Aurélio da Paz dos Reis foram estreados, no Porto, a 12 de Novembro de 1896. Dado o grande sucesso das projecções, seguiram a este espectáculo sessões em Braga, no Teatro São Geraldo, a partir de 21 de Novembro. As produções exibidas em Braga foram: «Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança», «Feira do Gado na Corujeira», «Chegada de um Comboio Americano a Cadouços», «Jogo do Pau», «O Zé P´reira na Romaria de Santo Tirso», «Cortejo Eclesiástico Saindo da Sé do Porto no Aniversário da Sagração do Eminentíssimo Cardeal D. Américo», «Porto», «Manobras de Bombeiros», «Azenhas no Rio Ave», «A Rua do Ouro», «Saída de Dois Vapores» e «Marinha no Tejo». Este último título é motivo de discussão porque, segundo certos historiadores, ele data de 1938 e trata-se de um documentário sobre a Marinha de Guerra.
Mas Aurélio da Paz dos Reis não se ficou por aqui. Estima-se que, só no ano de 1896 – e talvez 1897 – em sociedade com António da Silva Cunha, tenha realizado cerca de 40 filmes. Uma dessas películas foi «O Fandango», filmado em Santo Tirso, e cujo tema de fundo é o fandango minhoto. Numa demonstração de génio, para acompanhamento musical, Paz dos Reis contratou um rancho regional, dando assim a ilusão ao espectador de um filme sonoro.
Um outro filme, cuja data de filmagem é incerta, foi «A Dança Serpentina», inspirado na famosa película com Loies Fuller, que tem versões americana de Jenkins, inglesa de Friese Green e francesa de Louis Lumiére. Paz dos Reis descobriu a primeira vedeta do cinema nacional, uma brasileira chamada Cintra Polónia, que dançou perante a objectiva a dança da serpentina, tornando-se um enorme sucesso.
«O Vira», outro dos seus filmes, mostra na perfeição a mestria do realizador. Todo “fotografado” debaixo de um alpendre, e portanto sem luz solar directa, mas mesmo assim com uma excelente qualidade.
Com o fito de alargarem as temáticas dos seus filmes, e com o desejo de uma tournée no Brasil, a dupla Paz dos Reis e Silva Cunha contratou um fotógrafo profissional chamado Francisco Fernandes Magalhães Bastos Júnior. Já com a sua colaboração foram feitos os filmes «Torre de Belém» e «Avenida da Liberdade».
A tal tournée pelo Brasil, que devido à falta de investigação levou durante algum tempo muitos historiadores do Cinema Português a descurarem a sua realização, chegou mesmo a acontecer. Segundo a informação dada por Carlos Ortiz no seu livro «História Breve do Cinema», “...um cinegrafista português que aportara ao Rio com a camara sob o braço, rodou na Avenida Rio Branco os primeiros metros de película virgem em 35 mm. Consta que foi o primeiro giro de manivela do cinema no Brasil...”.
Do ano de 1898 datam os filmes «A Boca do Inferno» e «Saída do Paquete Duque de Bragança», ambos do operador de nome Henry Short, da Casa Paul de Londres, a pedido do comendador António dos Santos.

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