sábado, março 04, 2006
Vasculhando o baú do sótão
Crónica que escrevi a propósito da seca vivida no ano passado:
Memórias de um ateu oportunista
“Someday a real rain will come and wash all the scum off the streets.” *
Recordo-me de até há pouco tempo atrás, nos rebeldes anos da adolescência, me debater em acesas tertúlias acerca de questões de fé, de espiritualismo e de crenças. E, a bem da verdade, todas estas reminiscências fizeram-me relembrar o porquê de eu me considerar ateu. É de facto simples – e ingénua – a conclusão a que cheguei: como nunca conseguiria compactuar com algo que não compreendo, disse para mim que, definitivamente, não era um crente.
“Someday a real rain will come and wash all the scum off the streets.” *
Recordo-me de até há pouco tempo atrás, nos rebeldes anos da adolescência, me debater em acesas tertúlias acerca de questões de fé, de espiritualismo e de crenças. E, a bem da verdade, todas estas reminiscências fizeram-me relembrar o porquê de eu me considerar ateu. É de facto simples – e ingénua – a conclusão a que cheguei: como nunca conseguiria compactuar com algo que não compreendo, disse para mim que, definitivamente, não era um crente.
Até aos dias de hoje fui tentando reger a minha vida sobre os estandartes da lógica e da razão. No entanto tenho constatado, num misto de amargura e perplexidade, que esta minha posição filosófica já não me ajuda a compreender o mundo complexo e incoerente que me rodeia. Não seremos nós próprios capazes de acabar com as injustiças, a linearidade, a ostentação perniciosa de valores amorais? A resposta, a estas e outras perguntas, não se afigura simples, mas ao ouvir uma notícia na rádio o meu cérebro foi como que momentaneamente iluminado.
É com atenção e tristeza que tenho vindo a acompanhar os últimos acontecimentos sobre a seca no nosso país. As suas devastadoras consequências já fizeram com que até o Sr. Presidente da República se pronunciasse acerca da catástrofe e é sabido que, em Fátima, também já foram oradas preces pedindo a célere vinda da chuva que a Natureza tão gentilmente sempre compartilhou.
Agora, numa atitude arrojada – e correndo o risco de ser considerado um Prof. Freitas do Amaral – só me resta juntar-me a estas preces, embora com um desejo um pouco diferente do dos outros camaradas de oração. Quando se der luz verde para descarregar a essência que de momento se encontra prisioneira, que seja feito de forma cirúrgica e divina. Que não seja chuva, mas sim um dilúvio que leve consigo, de uma vez por todas, todos os males de que o mundo padece.
Será que estou a pedir demais?! Veio-me agora à cabeça a metáfora bíblica de Sodoma e Gomorra…
* Mítica frase proferida por Robert de Niro em Taxi Driver (1976)
Texto de Luis Monteiro
Comentários:
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.....pode parecer um comentário péssimista, mas isto já nem com dilúvio lá vai, digo eu, quanto ao texto é muito bom.....
Abraço
Abraço
luis,
Sabes, eu acho que não existem ateus...na sua plenitude...
Quanto aos males de que o nosso mundo padece...que nem um dilúvio os levaria...se todos pensarmos assim...de uma forma pessimista...realmente será a mais pura das verdades...
(Eu sempre fui pessimista...até ter percebido que não podia ser...)
Parabens pela crónica.
Beijinho terno para ti.
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Sabes, eu acho que não existem ateus...na sua plenitude...
Quanto aos males de que o nosso mundo padece...que nem um dilúvio os levaria...se todos pensarmos assim...de uma forma pessimista...realmente será a mais pura das verdades...
(Eu sempre fui pessimista...até ter percebido que não podia ser...)
Parabens pela crónica.
Beijinho terno para ti.
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